Um projeto de pesquisa multicêntrico inédito envolvendo universidades, hospitais e o setor privado, em parceria com a Dasa, irá coletar dados de crianças e jovens recém-diagnosticados com Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil (LESJ) por um período de dez anos!
Um projeto de pesquisa multicêntrico inédito envolvendo universidades, hospitais e o setor privado, em parceria com a Dasa, irá coletar dados de crianças e jovens recém-diagnosticados com Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil (LESJ) por um período de dez anos! Essa iniciativa pioneira posiciona o Brasil como um centro de conhecimento de referência em características clínicas, genéticas e ambientais relacionadas à essa doença rara. É o início de um banco de dados que pode abrir diversos novos caminhos para cuidados mais assertivos. Conversamos com o Dr. Clovis Artur Almeida da Silva (ICr-HC-FMUSP), responsável pelo grupo de trabalho BRAC-SLE Inception Cohort Study 2020-2030.
“Este é um dos primeiros estudos prospectivos dirigidos especificamente ao LESJ, incluindo vários aspectos e com a participação de 32 serviços terciários de Reumatologia Pediátrica das cinco regiões do Brasil, todos centros de referência nos cuidados com o LESJ”, conta o professor de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP e Chefe Técnico-Científico das Unidades de Reumatologia e de Adolescentes do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da FMUSP (ICr-HC-FMUSP).
Em um período de 10 anos, de 2020 a 2030, o projeto vai avaliar questões clínicas, laboratoriais (como autoanticorpos e lípides) e genéticas, aspectos ambientais (como poluição atmosférica, vírus) e tratamentos realizados em 400 pacientes recém-diagnosticados com LESJ, em até seis meses. A coleta de dados será semestral. O projeto está em aprovação nos Comitês de Ética das instituições envolvidas e terá a parceria da Dasa. “É a nossa oportunidade de validar exames e testes com achados satisfatórios, antes da incorporação na rede de laboratórios”, afirma Gustavo Campana, diretor médico da Dasa.
O LESJ é uma doença crônica e rara, autoimune, inflamatória, sistêmica e potencialmente grave. O acompanhamento da sua evolução pode ser essencial para reconhecer o espectro clínico e evitar danos aos órgãos acometidos pela doença. Serão avaliados, por exemplo, os perfis de autoanticorpos (FAN, anti-DNA, anti-SM, anti-Ro/SSA, anti-La/SSB, anti-RNP, anti-cardiolipina, anticoagulante lúpico, anti-B2 glicoproteína 1) de um grupo de 400 pessoas, o perfil lipídico (colesterol total, frações e triglicérides), os exomas de lactentes e pré-escolares, totalizando 60 pacientes, e as coletas de sangue e DNA para construção de um biorrepositório.
Com a palavra, o pesquisador doutor Clovis Silva:
Qual a importância do projeto?
Em 2014, fundamos o Grupo Brasileiro de LESJ (Brazilian Childhood-Onset Systemic Lupus Erythematosus – BRAC-SLE Registry Group), hoje um dos principais grupos dessa doença no mundo. Já temos quase 30 artigos publicados nas principais revistas científicas internacionais de Reumatologia e Pediatria. Esses primeiros estudos avaliaram retrospectivamente as informações de 1.555 pacientes. A partir do ano que vem, vamos formar um novo grupo (BRAC-SLE Inception Cohort Study 2020-2030), no qual vamos incluir pacientes no início da doença e avaliar os dados longitudinalmente, em uma série histórica.
Vamos analisar vários pontos, destacando-se as questões clínicas, laboratoriais e genéticas, os aspectos ambientais e os tratamentos. Além disso, vamos construir um biorrepositório de sangue e DNA aqui no ICr-HC-FMUSP para guardar as amostras para futuros estudos.
Como estão os grupos de estudos de pacientes com LESJ no mundo?
Este é um dos primeiros estudos prospectivos dirigidos especificamente ao LESJ, incluindo vários aspectos e com a participação de 32 serviços terciários de Reumatologia Pediátrica das cinco regiões do Brasil, todos centros de referência nos cuidados com o LESJ. O grupo de profissionais é composto por um investigador principal, um corresponsável, cinco coordenadores, sete alunos de Doutorado e três alunos de Iniciação Científica da FMUSP, 62 médicos reumatologistas pediatras e 35 médicos de outras especialidades pediátricas. Cada um dos projetos tem desdobramentos, metas e prazos específicos. A Dra. Daniele Castro de Andrade será a coordenadora laboratorial da Dasa.
Grupo de LESJ 2020-2030, que terá apoio Dasa, no Congresso Brasileiro de Reumatologia, Fortaleza (CE), em setembro de 2019.
Quais as etapas da pesquisa?
No início de 2020, após a aprovação do Comitê de Ética do HC-FMUSP, faremos um pré-teste no ICr-HC-FMUSP, com uma amostra de 10 a 20 casos. O objetivo do pré-teste é verificar o fluxo inicial dos exames e as dificuldades iniciais de preenchimento da planilha de dados do RedCap. A Dasa vai contribuir significativamente na realização dos exames, avaliação genética, coleta de sangue/DNA e no encaminhamento das amostras para o biorrepositório.
Qual o objetivo e a relevância deste projeto multicêntrico?
O objetivo é reconhecer as características clínicas laboratoriais, genéticas e evolutivas dos pacientes com LESJ. Cada um dos trabalhos da equipe tem um desdobramento e prazos distintos. É um projeto inédito, original, com inovação tecnológica e é empreendedorismo!
Pode explicar a organização do grupo e o empreendedorismo?
O grupo terá uma planilha de dados no sistema RedCap. Para a inclusão dos centros, nós temos apresentado os resultados anteriores e o novo projeto nos últimos Congressos Brasileiros de Reumatologia, como o ocorrido há três semanas em Fortaleza (CE). Todos os estudos serão posteriormente publicados, cujos autores são os pesquisadores do BRAC-SLE e os profissionais da Dasa. O projeto vai gerar várias contribuições e permitir a internacionalização do conhecimento. Futuramente, vamos estruturar parcerias com outros projetos do mundo. Por exemplo, para a identificação de fatores genéticos associados, como lúpus monogênico, que podem ser a base para a criação de remédios específicos.
Como é a parceria com a Dasa?
Nesta parceria de educação continuada, vamos compartilhar os conhecimentos com a Dasa e a comunidade científica em geral. A parceria ética com universidades e instituições privadas é sempre bem-vinda. Um papel importante para o professor e pesquisador é também a divulgação dos resultados para a sociedade. Todos ganhamos, principalmente os pacientes com LESJ.