Março é o mês de conscientização sobre o câncer colorretal. Nesta edição, nós da Oncologia DASA preparamos esse texto para que você entenda um pouco mais sobre essa doença, suas formas de prevenção e o seu tratamento.

Para o Brasil, estimam-se, para cada ano do triênio de 2020-2022, 20.540 casos de câncer colorretal em homens e 20.470 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 19,64 casos novos a cada 100 mil homens e 19,03 para cada 100 mil mulheres segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA)1. O câncer colorretal é segundo mais comum em ambos os sexos, o que torna ainda mais relevante as ações de prevenção e de tratamento precoce.

Devido à elevada incidência do câncer colorretal, temos que falar sobre os tipos de prevenção utilizados para essa doença. Mas, antes de mais nada, é importante definirmos alguns termos, são eles: Prevenção Primária e Prevenção Secundária; esta última é basicamente dar o diagnóstico precoce da doença, é o famoso “diagnosticar no começo”, e isso sempre é bom em se tratando de câncer! Quando falamos em Prevenção Primária, estamos nos referindo a medidas preventivas que evitam o surgimento de alguma doença, aqui no caso o câncer colorretal, ou de lesões precursoras ou que podem evoluir para o câncer.

No caso do câncer do intestino grosso (cólon) e reto existe, na grande maioria dos casos, o surgimento de uma lesão precursora, que são denominados “pólipos de intestino.” Esses pólipos são formados a partir do crescimento anormal de células da parte interna do intestino (ou mucosa) que crescem de modo desordenado e formam os tumores. Estima-se que, em média, o tempo de transformação de um pólipo em tumor seja algo em torno de 6-8 anos2, e isso tem tudo a ver com prevenção primária! Vou explicar melhor mais adiante.

O CCR é uma doença multifatorial influenciada por fatores genéticos (aquilo que se herda dos seus pais), fatores ambientais (o que se come, por exemplo) e do estilo de vida (aquilo que se faz ou deixa de fazer). Quando se está agindo do modo tido como “saudável”, ou seja, alimentando-se sem excessos, evitando o uso de tóxicos como fumo e álcool, praticando atividade física regular e dormindo bem, falamos em prevenção primária. Uma outra forma de prevenção primária exclusiva para esta doença é quando, durante uma colonoscopia é retirado um pólipo que poderia vir a se tornar um câncer. Essa forma de prevenção, a primária, é a mais importante para evitar doenças e praticamente todos os cânceres em geral3!

A colonoscopia é o método mais eficiente para a detecção do câncer colorretal. É o que chamamos em medicina de “padrão ouro”. Ela é recomendada tanto para os pacientes que tenham sintomas, seja um sangramento ou alteração do hábito intestinal, quanto para aqueles que se enquadram na chamada “população de risco”. A população de risco para câncer colorretal é qualquer pessoa acima de 50 anos, ou com idade 10 anos a menos do que o parente de primeiro grau que teve câncer colorretal, portadores de doença inflamatória intestinal, portadores de síndromes genéticas, o que já tenham tido câncer de cólon previamente; além daqueles que tiveram achado de pólipo em alguma colonoscopia prévia4. Quando a colonoscopia é utilizada em pacientes assintomáticos, mas que se enquadrem nesse grupo de risco, eles estão fazendo o que chamamos de rastreamento. Além da colonoscopia, existem outros modos de rastreamento como, por exemplo, a retossigmoidoscopia ou exames para identificação de sangue nas fezes. Estes últimos devem ser feitos de modo mais frequente, ou seja, a cada 1-2 anos e necessitam de um preparo especial que envolve uma dieta prévia à coleta das fezes4.

O rastreamento do câncer colorretal corretamente aplicado para um determinado grupo de risco é a forma mais eficaz de combater o câncer colorretal e está diretamente relacionado com a queda do número de casos novos e de morte por essa doença.

No entanto, algumas vezes não temos como prevenir o câncer colorretal. Nesses casos, temos que entender como se dá o tratamento dessa condição. Uma vez diagnosticado o câncer de intestino grosso, há a necessidade de se realizar uma avaliação por completo do paciente, chamada de estadiamento. Esse se dá, geralmente, pela realização de exames de imagem como tomografias, ultrassonografia e/ou exame de raio x. Também é necessário fazer exames de sangue, incluindo alguns marcadores tumorais, como o CEA e o CA19-9. Na maioria dos casos, esses marcadores são produzidos pelo próprio tumor e estão relacionados com o prognóstico, ou seja a evolução, sendo utilizados no seguimento dos pacientes tratados5.

Após a realização do estadiamento, é programado o tratamento dos pacientes. Dependendo da situação da doença, ou seja, se o tumor está localizado ou se acometeu outros órgãos, decide-se entre operar ou fazer alguma quimioterapia e/ou radioterapia. Supondo que uma pessoa tenha câncer no cólon direito, e os exames de estadiamento (tomografia de pulmão e do fígado) não identificarem nada alterado, o tratamento será a cirurgia. A partir daí será feita uma análise mais detalhada do tumor e o oncologista decidirá se a cirurgia foi suficiente ou se haverá a necessidade de se fazer alguma quimioterapia de reforço após essa cirurgia, é o que chamamos em oncologia de Adjuvância. Mas, supondo que há a presença de metástases no fígado, por exemplo, o oncologista pode optar em iniciar o tratamento com quimioterapia e deixar a cirurgia para depois, a isso chamamos de Neoadjuvância5.

Por fim, um pequeno resumo:

1) Diante de sintomas intestinais como sangramento ou mudança do funcionamento do intestino, deve-se procurar um médico, e provavelmente haverá a necessidade de se fazer uma colonoscopia;

2) É aconselhável que se faça uma colonoscopia de rastreamento para pacientes com idade igual ou superior a 50 anos (os pacientes com familiares que foram acometidos por um câncer de intestino devem fazer o exame mais cedo);

3) Deve-se evitar os excessos e os alimentos processados. O ideal é comer mais frutas, verduras; alternar carnes vermelhas com carnes brancas ou peixe é uma boa opção;

4) É recomendado que se pratique alguma atividade física; e

6) O câncer colorretal tem é um tumor evitável e com altas taxas de cura, principalmente quando diagnosticados no início!

Referências

  1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional de Câncer, 2022. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/estimativa-2018-incidencia-de-cancer-no-brasil. Acesso em 14, fevereiro 2022.
  2. Elizabeth H, Dani B, Paul R. Familial adenomatous polyposis.Orphanet J Rare Dis. 2009;4:22.
  3. Brenner H, Chang-Claude J, Jansen L, Knebel P, Stock C, Hoffmeister M. Reduced risk of colorectal cancer up to 10 y after screening, surveillance, or diagnostic colonoscopy. Gastroenterology 2014;146:709-17
  4. Lieberman DA, Rex DK, Winawer SJ, Giardiello FM, Johnson DA, Levin TR, et al. Guidelines for colonoscopy surveillance after screening and polypectomy: a 4. Consensus Update by the US Multi-Society Task Force on colorectal cancer. Gastroenterology 2012;143:844-57
  5. QUASAR Collaborative Group. Adjuvant chemotherapy versus observation in patients with colorectal cancer: a randomized study. Lancet 2007; 370: 2020–29

Sobre o autor

Ranyell M Spencer
Cirurgião Oncológico
Ex titular do departamento de cirurgia pélvica do AC Camargo
Doutor em oncologia com linha de pesquisa em sarcoma
Co fundador do Clinical Papers Podcast
Oncologia DASA