O transtorno alimentar compulsivo está entre os transtornos alimentares mais frequentes, sendo caracterizado pela ingestão de quantidades elevadas de alimentos em curto espaço de tempo, destoante da maioria das pessoas em situações semelhantes, associada a sensação de perda do controle alimentar. Diferentemente da bulimia nervosa, os episódios de excesso alimentar não são acompanhados de comportamentos purgativos como indução de vômitos, uso de laxantes ou práticas exageradas de exercícios físicos, com a maior parte dos pacientes apresentando sobrepeso ou obesidade.
Associado ao descontrole alimentar, os indivíduos acometidos pela doença podem manifestar sentimento de culpa, angústia e constrangimento, acarretando sofrimento considerável. Além disso, alguns pacientes desenvolvem o hábito de esconder alimentos ou comer escondido devido ao receio dos julgamentos oriundos da ingesta alimentar exagerada.
O diagnóstico do transtorno é baseado na investigação clínica por meio da entrevista clínica e da aplicação de questionários específicos, não havendo exames laboratoriais destinados a essa finalidade. Na entrevista clínica são avaliados: ocorrência de episódios de compulsão alimentar, recorrência ≥ 1 vez por semana nos últimos 3 meses, pelo menos 3 características de perda de controle (comer mais rapidamente do que o normal; 2. comer até sentir-se desconfortavelmente cheio; 3. comer grandes quantidades de alimentos sem sensação de fome; 4. comer sozinho por vergonha devido à quantidade de alimentos que consome; 5. sentir repulsa por si mesmo, depressão ou culpa demasiada após comer excessivamente), presença de angústia e ausência de comportamentos compensatórios.
O tratamento é baseado na abordagem multidisciplinar regular que envolve médico psiquiatra e endocrinologista, psicólogo, nutricionista, dentre outros profissionais especializados. A terapia cognitivo comportamental tem sido a recomendada associada ou não ao uso de medicamentos.
O transtorno compulsivo alimentar está frequentemente associado outros transtornos como o de ansiedade. Os mecanismos envolvidos nessa associação ainda não estão completamente elucidados, mas compreende-se que há uma desorganização dos circuitos cerebrais relacionados à sensação de prazer que é direcionada ao consumo alimentar desenfreado. Os momentos de ansiedade corroboram como gatilhos aos episódios do comer exagerado, devendo, dessa forma, ser tratado também de forma direcionada.
A doença acarreta prejuízos notáveis na qualidade de vida do paciente, como comprometimento de suas atividades laborais e vida pessoal. No entanto, o diagnóstico é realizado em uma pequena parcela da população. O estudo VALIDATE, publicado na revista científica Jornal Clinical Psychiatry chama a atenção sobre essa questão ao demonstrar que apenas cerca de 3% dos pacientes que preenchem os critérios da doença tem esse diagnóstico realizado.