Pesquisa alerta para o fato que dentre os 15 laboratórios participantes, 73% (11) deram o diagnóstico de ao menos um caso falso positivo ou falso negativo.

O recente surto de Zika vírus afetou milhões de pessoas no continente americano e o Brasil, país mais impactado, reportou 95% de todos os casos suspeitos de Zika vírus associados com microcefalia. Por sua vez, qual foi a sensibilidade e especificidade dos exames realizados no período? Com a proposta de responder a esse questionamento, 15 laboratórios, de sete Estados, que são referência no país em testes moleculares, se submeteram a uma avaliação externa de qualidade dos exames de Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) realizados em suas bancadas.

O estudo External Quality Assement of Zika Virus Molecular Diagnostic Testing, Brazil, publicado em 5 de maio na revista científica Emerging Infectious Diseases, identificou que 73% dos laboratórios (11 de 15), diagnosticaram, ao menos, um caso falso positivo ou falso negativo. Dentre os quatro laboratórios que avaliaram corretamente todas as amostras do estudo está o Grupo Dasa, importante player de saúde do Brasil e quinta maior empresa de medicina diagnóstica do mundo.

Para chegar a esse dado, o autor principal do estudo, o médico virologista Jan Felix Drexler, do centro médico da University of Bonn, da Alemanha, enviou aos laboratórios brasileiros um painel com 12 amostras contendo vírus inativo. O painel contemplou quatro amostras positivas de Zika vírus com diferentes doses virais e oito amostras com outras arboviroses como chicungunha, dengue, encefalite, febre amarela, dentre outras.

Os laboratórios são ligados a universidades, hospitais, Institutos federais de pesquisa e empresas privadas. Cada um deles recebeu, da Alemanha, o kit com as 12 amostras de sangue (plasma). “O pesquisador Jan Felix Drexler pegou amostras positivas e negativas bem caracterizadas por ele e distribuiu, de forma cega, para os diferentes laboratórios brasileiros”, explica o biólogo molecular do Grupo Dasa, José Eduardo Levi.

Seguindo as suas metodologias, cada laboratório analisou as amostras e aferiu o diagnóstico. O estudo traz uma tabela que mostra a investigação feita por cada laboratório para as doze amostras, mas, para manter a confidencialidade, cada órgão participante foi representado por um número. O Grupo Dasa está entre os quatro laboratórios que tiveram a melhor performance nesta pesquisa, tendo diagnosticado corretamente todas as amostras. “Para nós, esse resultado foi muito importante. É compensador saber que a nossa performance foi tão boa. Nos dá segurança em seguir nosso caminho que, aliás, foi idêntico ao que adotamos posteriormente durante o surto de febre amarela”, relata Levi.

Padrão de qualidade

A performance apresentada no estudo pelo Grupo Dasa é resultado de infraestrutura que contempla um moderno aparato técnico-científico no laboratório de Biologia Molecular do Núcleo Técnico Operacional, em Alphaville. De acordo com José Eduardo Levi, a qualificação do corpo clínico e otimização dos processos, permite que o serviço tenha o potencial de analisar mais de 5 mil casos/ano de Zika vírus, mantendo o alto padrão de qualidade. “A padronização dos nossos métodos faz com que tenhamos alta sensibilidade e especificidade, evitando assim os resultados falso positivo ou falso negativo”, ressalta.

Impactos do diagnóstico de microcefalia

A infecção pelo Zika vírus é uma das causas da microcefalia, doença na qual a cabeça do bebê é significativamente menor que o esperado, muitas vezes devido ao desenvolvimento anormal do cérebro. Quanto mais precoce for o diagnóstico, mais eficaz será o acompanhamento clínico do paciente, que visa o controle de sintomas de deficiência intelectual e atraso na fala e movimentos, prejuízo no desenvolvimento do corpo, menor estatura, dentre outros. Desta forma, liberar um laudo de exame falso positivo ou falso negativo gera um impacto negativo no bebê e sua família.

- Falso negativo: quando uma gestante tem uma alteração sugestiva de Zika vírus, mas o PCR dá negativo, ela não fará ultrassom e não terá o suporte de um centro especializado. Com isso, a microcefalia só será diagnosticada no final da gravidez. “Perde-se uma oportunidade de permitir que a família se prepare física, cultural e emocionalmente para receber uma criança com essa doença”, aponta Levi.

- Falso positivo: o apontamento equivocado de um diagnóstico positivo causa um impacto no pré-natal, incluindo abordagens invasivas como a coleta de líquido amniótico. Além disso, a gestante fará exames de ultrassom e a família se mobilizará em torno do melhor cuidado possível para o bebê que nasceria com microcefalia.

Ainda de acordo com o biólogo, todos os cuidados precisam ser tomados para que não se tenha nenhum caso sequer de falha de sensibilidade ou sensibilidade do PCR. Para tanto, explica Levi, é necessário haver padronização dos testes, qualificação do corpo clínico, cuidado no manuseio das amostras e controle do ambiente laboratorial.