A pandemia de Covid-19 no Brasil continua com números muito altos. Embora a média móvel tenha diminuído de 3 mil para menos de 2 mil mortos por dia, as taxas ainda são muito altas quando comparadas a outros países. Para diminuir as contaminações e evitar que vetores circulem espalhando diferentes cepas (o que também ajuda a criar novas variantes do coronavírus), laboratórios e indústrias se redobraram para criar e distribuir testes de Covid-19 enquanto a vacina não está acessível a todos.
Como há muitos no mercado, pode ser difícil identificar quais oferecem resultados mais precisos. Neste texto, vamos entender quais as diferenças entre os testes de Covid-19 oferecidos em farmácia e os de laboratório.
Testes de farmácia ou de laboratórios: em qual confiar?
Antes, é preciso entender as fases de desenvolvimento dos testes para Covid-19 e como eles se encontram atualmente.
Surgimento dos testes de Covid-19
Uma afirmação muito apoiada pela Medicina e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de que quanto mais se testa, maior é a chance de se controlar uma pandemia. Logo após o surgimento da Covid-19, os primeiros testes para o diagnóstico da doença foram desenvolvidos pelos próprios laboratórios clínicos, portanto restritos a grandes laboratórios que dispõem de áreas de pesquisa e desenvolvimento que permitiram utilizar protocolos publicados no exterior e reproduzir os testes de RT-PCR no Brasil. Não haviam testes comerciais vendidos prontos e os insumos primários necessários para o teste sofreram desabastecimento global. Essa foi uma época de pouco acesso aos testes, já que a oferta não atendia à demanda da população.
Alguns meses depois, começaram disponibilizados ao mercado testes comerciais produzidos pela indústria diagnóstica, com uma infinidade de fabricantes e metodologias diferentes. Para os profissionais e estudiosos de saúde, mais perguntas surgiram, pois a maioria dos testes foi submetida a aprovação emergencial pelos órgão reguladores e a qualidade destes testes precisou ser investigada pelos laboratórios rapidamente, e médicos, laboratórios e instituições foram ganhando experiência conforme o uso dos testes.
A partir dessas dúvidas, nasceu uma iniciativa bastante interessante de alguns órgãos relacionados a laboratórios brasileiros. O Programa de Avaliação de Kits de Diagnóstico para SARS-CoV-2, um site onde essas organizações se uniram e, com laboratórios brasileiros, incluindo a DASA, estudaram os testes de Covid-19 colocados no mercado e que foram cedidos pelos fabricantes.
A partir do momento em que o mercado foi inundado com testes, essas iniciativas surgiram para compartilhamento de informação com relação à qualidade e desempenho de cada um deles. Assim, seria possível consultar se o teste de coronavírus é confiável.
Tipos de testes
Atualmente, existem dois grandes grupos de testes disponíveis no mercado: os de detecção de vírus e de detecção de anticorpos. Eles são usados em diferentes fases da doença.
Mesmo dentro desses grupos existem outros subgrupos:
- Testes de detecção de vírus: de RT-PCR, RT-LAMP, de antígenos;
- Avaliações sorológicas: anticorpos totais, IgM e IgG, e anticorpos neutralizantes.
Esses testes têm metodologias e fabricantes diferentes.
Cada um deles tem características distintas com relação à sensibilidade (probabilidade de apontar um resultado positivo quando a pessoa está com a doença) e especificidade (probabilidade de que o paciente realmente esteja com Covid quando o teste der positivo). Alguns desses testes, por exemplo, não têm uma alta especificidade e podem apontar positivo quando o indivíduo estiver com outra doença que não seja Covid-19.
Essas características, aliadas a outras usadas durante os testes, são requisitos de avaliação obrigatórios dentro de um laboratório clínico quando ele decide oferecer testes aos pacientes.
Os laboratórios são regidos pela RDC 302 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que traz requisitos mínimos para validação e controle de qualidade de testes. Atualmente, o órgão também autoriza que testes de baixa complexidade sejam realizados nas farmácias. No entanto, é um menu restrito - os chamados testes rápidos - que não requerem aparato laboratorial e complexidade para realização.
Quais as vantagens dos testes para coronavírus de laboratórios?
A primeira vantagem diz respeito à segurança em frequentar o laboratório. Em geral, os laboratórios estão organizados para fazer uma divisão de fluxos para pacientes com e sem suspeita de Covid-19. Na DASA, as unidades oferecem horários exclusivos para quem tem suspeita de infecção.
O objetivo é dar segurança para quem não tem suspeita de Covid-19, mas sofre outra doença que precisa de acompanhamento laboratorial. Assim, essas pessoas não são expostas a outros pacientes potencialmente doentes.
Além disso, os laboratórios seguem normas muito rígidas de controle de qualidade e validação dos testes. O responsável técnico do laboratório é responsável por garantir a qualidade dos exames oferecidos, e isso implica em conhecer profundamente o teste escolhido para comercialização, seguir à risca as recomendações dos fabricantes e das boas práticas laboratoriais, além de seguir as normas de biossegurança. Os laboratórios, antes da comercialização de um novo teste, submetem-no a procedimentos de validação para verificar se realmente a qualidade relatada pelo fabricante é observada na prática. Por isso, cada uma dessas instituições se responsabiliza pela qualidade daquilo que aplica.
A tendência é de que a maioria dos testes realizados em laboratório sejam mais confiáveis do que os realizados em farmácia, por se tratarem de plataformas mais complexas, robustas, estáveis, mais sensíveis e por sofrerem menor interferência cruzada de outras substâncias. Também, porque os laboratórios seguem procedimentos operacionais com instruções padronizadas para coleta da amostra, manuseio, armazenamento e guarda da mostra, biossegurança e manipulação, além de requisitos legais para emissão de um laudo laboratorial.
Testes rápidos de farmácia são confiáveis?
Depende do teste. Alguns dos testes oferecidos em farmácia são os mesmos ou semelhantes aos de laboratórios,mas o menu que pode ser oferecido na farmácia é bastante restrito: só é possível encontrar testes rápidos., com aplicação restrita a uma fase da doença e sensibilidade inferior aos testes laboratoriais.
Existem dois tipos de teste de farmácia:
Teste de antígeno
Coletado no nariz para pesquisar a presença do vírus, o teste de antígeno é apropriado para o diagnóstico na fase inicial da doença, quando há sintomas (idealmente até 5 dias do início dos sintomas). O resultado pode dar falso negativo quando o paciente está com uma quantidade de vírus nas vias aéreas inferior ao limite de detecção do teste, nestes casos o exame que pode fazer o diagnóstico de maneira mais apropriada é o RT-PCR, que é realizado no laboratório.
Teste rápido de anticorpos
É o teste em que o farmacêutico fura a ponta do dedo do paciente, coleta uma pequena quantidade de sangue e pinga num cassete de plástico (semelhante aos utilizados em testes de gravidez), que fará a leitura e apontará para “reagente” (quando há anticorpos) ou não reagente.
Este teste apresenta muitas limitações - são muitos os fabricantes e as diferenças de qualidade entre eles são enormes. É frequente que haja casos de pessoas que nunca tiveram Covid-19 e que acabam tendo resultados positivos. Mas na investigação médica e outros exames laboratoriais mais robustos, essa positividade não se confirma, e sim uma reatividade cruzada, ou seja, algum interferente da amostra acabou tornando o resultado positivo.
Da mesma maneira, a sensibilidade do teste também não é muito alta. Portanto, um resultado negativo pode não se confirmar quando realizado em outras plataformas laboratoriais mais sensíveis, com a coleta de sangue venoso e processamento do soro.
O teste pelo método imunocromatográfico (com sangue), por exemplo, tem sensibilidade e especificidade mais baixas. Por isso, é utilizado em situações muito específicas, como estudos epidemiológicos, em que se faz uma análise da região geográfica e acometimento da população pela doença. Mas em termos individuais, ele sofre dessas desvantagens e não é recomendada sua utilização na Covid-19.
Qual o teste de Covid mais confiável?
Depende da fase da doença na qual o teste é aplicado. De qualquer maneira, atualmente reconhece-se como padrão-ouro o teste de RT-PCR realizado na nasofaringe (localizada logo atrás da cavidade nasal). Esse é teste mais confiável se realizado no intervalo adequado: entre um dia antes do aparecimento dos sintomas até 10 dias depois.
Isso não significa que outros testes não possam ser usados. Há aqueles que trazem resultados muito rápidos, como o de antígenos e o RT-LAMP, que é um teste molecular. Estes testes, se aplicados na melhor fase da doença (primeiro a quinto dia e primeiro a sétimo dia, respectivamente), têm desempenho próximo ao do RT-PCR por apresentarem uma sensibilidade adequada quando corretamente aplicados.